XXII ENCONTRO NACIONAL DA EPFCL-BRASIL
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Convidada: Ana Laura Prates
04, 05 e 06 de novembro de 2022 – Curitiba – PR
Prelúdio VII
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Elisabeth da Rocha Miranda
O terreno das Paixões do ser de fala – o amor, o ódio e a ignorância – é vastíssimo. Mas o que é o ser humano, como se dizer ser? O que é o ser? Tomemos as primeiras formulações de Lacan sobre a questão do ser.
A noção de ser, desde que tentamos apreendê-la, mostra-se tão inapreensível quanto a palavra. Porque o ser, o verbo mesmo, só existe no registro da palavra. A palavra introduz o oco do ser na textura do real, um e outro se mantêm e oscilam, são exatamente correlativos. (LACAN, Sem. 1 p. 261)
Esse buraco no real chama-se, segundo a maneira pela qual o encaramos, o ser ou o nada.” (LACAN, Sem. 1 p. 308)
Já no seminário VI, lemos: “O ser não está em nenhum lugar, a não ser nos intervalos, ali onde ele é o menos significante dos significantes, a saber o corte (…). Se quisermos dar ao ser sua definição mínima, diremos que ele é o real, enquanto que ele se inscreve no simbólico” (LACAN, Sem. 6, p. 408).
São as paixões que tentam dar ao ser um sentido, uma razão, uma significação para o oco do ser, tentam escamotear a castração e a angústia que lhe é própria, castração que tem a morte como protótipo. Eros e Thanatos, pulsões de vida e de morte, que alimentam as paixões, se encontram na busca do retorno a um estado mítico de repouso, de homeostase das excitações ou de fusão narcísica com o outro, a mãe, como das Ding. Mas é justamente a impossibilidade de manutenção desse estado que impõe ao ser de fala a castração, a incompletude, a falta, a perda.
O infans chega ao mundo totalmente assujeitado ao Outro, em dependência absoluta dos cuidados da mãe ou de seus substitutos, e estabelece com esses uma relação narcísica, um idílio narcísico que se romperá com o advento da castração simbólica. Rompimento que leva à eterna busca de reparação nunca alcançada. O ser então se aliena às paixões.
Alienado à paixão da ignorância, do “não quero saber nada disso”, o ser se debilisa e apela para a lógica do ter, onde o poder adquire um brilho extraordinário capaz de promover verdadeiras atrocidades; desde as guerras pelo domínio do mundo até as intolerâncias para com a alteridade que sempre aponta para o furo, para o oco do ser.
Toda diferença é sufocada, calada e massacrada pela força da paixão da ignorância. O brilho inebriante do poder não só se beneficia como promove o “não quero saber nada disso”, utilizando-se dos meios de comunicação, das redes sociais manipuladas para levar seus usuários a não pensarem e seguirem como massa de manobra aqueles que detêm o poder. Influenciadores e influenciados, capturados pelo brilho narcísico da imagem, tentam apagar o real e enfraquecer o simbólico onde a palavra perde seu peso.
Mas onde está o amor pelo saber, esse que se sabe furado, faltante? Foi consumido por algum ter que não pode ser compartilhado com o outro, com o semelhante, sempre rival no registro das imagens.
A paixão do amor tem uma longa história, desde o amor cortês que evita o encontro com o sexo e a consequente castração, até o amor pelo poder, que se transforma em paixão de domínio do outro e, consequente, ódio a esse outro. Não há amor sem ódio e vice-versa.
Cada época e cada cultura tem seu próprio modo de viver as paixões do ser. Hoje, no século XXI, vivemos o imperativo do consumo, a paixão pelo ter. Eros e Thanatos são consumidos e consomem o mercado. Eros mercantilizado insufla o amor por si mesmo, o narcisismo, e Thanatos insufla o isolamento, o cada um por si, o ódio ao diferente em nome de uma suposta segurança prometida pela paixão da ignorância.
Essas paixões – amor, ódio e ignorância – só podem produzir algo que beneficie o singular de cada sujeito pela via da sublimação e assim conseguir também beneficiar o coletivo.
Convido vocês a discutirem essas, dentre outras questões, no nosso XXII Encontro Nacional em Curitiba nos dias 4, 5 e 6 de novembro de 2022.
Até lá!
Coordenação local:
Cléa Ballão
Cláudia Leone
Cláudia Valente
Fernanda Histher
Glauco Machado (coordenador)
Nadir Lara Júnior
Robson Mello
Thamy Soavinsky
Comissão Científica:
Adriana Grosman
Bárbara Guatimosim
Felipe Grillo
Ida Freitas
Leila Equi
Terezinha Saffi
Glauco Machado
Sonia Alberti (coordenadora)
Equipe de Prelúdios:
Gloria Sadala
Zilda Machado
Coordenação Nacional: CG da EPFCL-Brasil:
Robson Mello – diretor
Julie Travassos – secretária
Juliana Costa – tesoureira