skip to Main Content

Prelúdio 8 – Jorge Iván Escobar Gallo
O laço que enoda a clínica

A.E. 2013-2016

Neurose, perversão e psicose, que formam o viés estrutural da clínica analítica, têm em comum seu enodamento na linguagem através do significante mestre,
que introduz o vivente no código do Outro, e diferem na forma particular como em cada uma delas, o sujeito responde ao assujeitamento que a linguagem lhe
impõe.

Parte-se daí, para apontar a possibilidade que tem o discurso analítico e seu agente operador, o analista, de abordar de uma maneira realmente objetiva os assuntos do analisante. Enquanto o sintoma analítico, abordado por meio da associação livre, como exige a regra analítica, tem uma disposição subjetiva, um dizer inapreensível, o sintoma médico pelo contrário, é objetivável, de certa forma mensurável, verificável, apreensível. A única forma de abordar objetivamente a clínica psicanalítica, parte da compreensão de que esta configuração, que se quer intangível, tem um enlace que é significante, no qual se baseia.

Trata-se do enlace significante S1-S2, o par mínimo, apontando a estrutura binária do significante, fundante do sujeito, com consequências não só para este, mas também para o Outro que o funda. Par apontado por Lacan, que em seu esforço por simplificar, não só seu ensino, mas também sua prática, torna evidente a matriz estrutural sobre a qual opera a clínica analítica. Daí surge para o analista as possibilidades de interpretação, porque é na possibilidade de descontinuidade, no intervalo entre S1-S2, que irrompe, emerge através da falta, o próprio sujeito. É nesse intervalo, que faz parte da estrutura, onde manifesta seu ponto fraco, mas também se afirma o refúgio por onde emerge o sujeito desejante, e ali mesmo no corte significante, que o desejo se manifesta. Ponto de falha, onde vislumbra-se como garantia do inequívoco, o desfalecimento último do Outro. Isto é verdade para a neurose e a perversão, já que na psicose, o que se apresenta, é a ausência de intervalo entre os significantes, posto que a captação maciça e sólida da cadeia, sendo holofraseado o par significante, faz com que falte a descontinuidade. Portanto, há ausência de diferenciação subjetiva e a própria existência do sujeito torna-se mais do que problemática. É evidente, no caso da mania, a presença de múltiplos S1 soltos que se impõem, como pequenos mestres, sem regra e sem conexão discursiva, sem laço com o S2, a ausência de ponto de estofo, que a falta do enlaçamento simbólico determina.

A maneira de confrontar-se no enlace significante e na descontinuidade que o submete, ordena o campo da experiência e materializa as estruturas clínicas. Para
a neurose trata-se de cobrir o ponto último, onde na descontinuidade, o Outro se faz inexistente e simultaneamente garantia de segurança, fabricando na
fantasia um Outro completo. Tal completude, para suturar a divisão do sujeito, é apoiada numa posição do sujeito que, assumindo de seu lado, tal divisão, tenta
extrair do Outro, um objeto que faça a sutura. Curiosamente o perverso, à sua maneira, também se dedica a tamponar o furo no Outro, consequentemente converte-se em seu guardião. A perversão é também uma resposta ao encontro com o Outro, e na divisão subjetiva, o perverso se coloca a si mesmo como objeto, buscando a restauração deste. Ali, onde falta no campo do Outro, tenta uma intrusão do a no referido campo. O perverso pretende também remediar o intervalo, o hiato que há na estrutura, que conhecemos como castração, mas colocando, ao contrário do neurótico, a divisão no campo do Outro.

O laço transferencial, permite ao sujeito submeter seu sintoma, à prova do inconsciente, única via possível de dar conta da insuficiência deste para responder, ao deparar-se com a divisão, com o intervalo que se dedicou a velar, permitindo portanto, a assumir-se como sujeito desejante, ao se des-(a)-tar do Outro.

____________________

Tradução: Mariangela Bazbuz

Revisão da tradução: Andrea Milagres e Glaucia Nagem

Back To Top