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Prelúdio 4 – Terezinha Saffi Dias de castro
Os enlaces e desenlaces na histeria

O tema escolhido para o XVI Encontro Nacional que acontecerá em Curitiba revela a importância das estruturas no campo psicanalítico e que em cada uma constata-se uma maneira particular de articular os registros do Real, Simbólico e Imaginário.

Quando falamos de neurose, psicose e perversão tratamos de estruturas de linguagem, que se sustentam (d)as amarrações desses registros.
Pretendo com este texto, como um convite à produção, salientar a prática e teoria no campo da fala e da linguagem, os significantes e os laços sociais, alguns sintomas e suas manifestações.

A criança vem ao mundo tendo que ser amparada pela palavra do Outro e do seu sub-rogado. Nesse contexto de desamparo e de dependência, vai sendo determinada pelos efeitos da linguagem. Percebemos que desde o início da vida, e antes mesmo do nascimento, ocorrem os enlaces e desenlaces, portanto, a busca de satisfação e o mal-estar que brotam nos encontros e desencontros estão na base dos laços sociais, como referiu Freud. São os enlaces e desenlaces significantes que determinam o sujeito no discurso do Outro, antes mesmo de nascer e também na mais tenra infância.
Na clínica psicanalítica, quando acontece de um sujeito entrar em análise, quando o analisante está decifrando os conteúdos do psiquismo e o que vai surgindo através de suas lembranças e suposições de sua história, suas fantasias, representações transferidas para o analista, repletas de investimentos sedutores, quando não atendidas as demandas, produzem um frisson, algo estranho e de uma inquietude. Suas elaborações repletas de intenções mancas e esperançosas, portanto, receberão, a interpretação, pontuação do analista em ato que produz uma fenda/falta.

No trilhamento de uma análise e diante das várias quedas das identificações, vão-se desvelando os sintomas em toda a sua gama de ocorrências. Assim, como outras formações do inconsciente, os sonhos, os lapsos, os atos falhos e os chistes.

Partindo desse arranjo em que as neuroses estão relacionadas às modalidades de desejo e gozo, segundo as estruturas e seus tipos clínicos, diz Freud que a histeria é caracterizada por um tipo de sintoma que se diferencia da fobia e da neurose obsessiva e da perversão. Procede da estrutura da linguagem do inconsciente, onde encontramos sintomas conversivos e dissociativos, ou seja, a histeria se especifica pelo fenômeno da conversão. Na histeria o corpo fala e a divisão subjetiva aparece, por exemplo, em fenômenos dissociativos. É também uma forma de laço social entre as pessoas e tem uma modalidade particular de lidar com a castração.

O que quer a histérica?
Nem o próprio sujeito histérico sabe, cheio de não me toques, recusando-se ao sexo para manter-se em falta, desejante e sedutora, procura sustentar seu desejo como insatisfeito. Mesmo quando atendido não é isso. Nenhum saber serve por muito tempo. Por mais que se tente satisfazê-lo é impossível. Ela se priva do gozo e, assim, mantém uma recusa. Por estrutura é tanto sujeito como objeto que desliza de um ao outro, de sapato em sapato, de jóia em jóia. Segundo Quinet é “tagarela e consumidora em seu polo maníaco, quando não está em seu polo melancólico depressivo…a histérica se oferece e se guarda, oferece e se furta, provoca e escapole”. (Quinet, 2005, p.113). As queixas-explicações da histérica falam do nostálgico de não ter conseguido acesso à feminilidade e ao gozo porque o que deseja uma mulher é gozar. Fica à volta dos filhos, tendo dificuldade de se aceitar como objeto do desejo de um homem. A clínica nos mostra que muitos dos casos de histeria se enlaçam à maternidade parecendo advir o desejo de filho/falo de sua identificação ao masculino. Ressalto a pergunta histérica: O que é ser mulher, se não é ser mãe? Isso não é senão acentuar o desejo como vazio, enquanto insatisfeito? Nada vai completar.

Qual é o trabalho possível para essa estrutura com tantos enigmas e cujo desejo foi retido pelo inconsciente?
A clínica psicanalítica acolhe o sujeito histérico e seu sofrimento para que possa decifrar os seus traumas e advir à ética do bem dizer.

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