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Prelúdio 12 – Rainer Melo
Quase uma Mulher

Quase uma Mulher. EUA,1992. Baseado em fatos reais. Um menino, fascinado, vê a mãe se maquiar em frente ao espelho. Ele a olha encantado. A mãe sorri e o chama carinhosamente para junto de si. “O objeto a, causa do desejo, um olhar, uma voz enlaça, cativa, encanta”. (Quinet, 2015). Já homem, trabalha como bancário e investidor e se casa. Certo dia, enquanto no trabalho, sua mulher chega de viagem com os filhos e encontra o apartamento repleto de roupas íntimas de mulher espalhadas. Foi expulso de casa. Há uma ruptura da relação de ambos; há um desenlace. Aluga um quarto, trabalha e à noite traveste-se em mulher e sai às escondidas para a noite. O objeto de desejo do sujeito, no entanto, são as mulheres, mesmo se travestindo com roupas femininas. O desejo enlaça. Envolve-se, então, com a dona da casa onde passou a morar. “Ela queria seu coração e ele queria suas roupas”.

Mônica, a dona da casa, vê-se envolvida num romance com Gerard, seu novo inquilino. Mônica não sabe que o rapaz foi expulso de casa pela esposa que achou que estava sendo traída. A verdade, porém, é que Gerard gosta de vestir-se secretamente de mulher. Depois de envolvidos, Gerard se sente à vontade para falar sobre seu segredo a Mônica que tem uma reação surpreendente: aceita-o dessa forma. Então, Gerard é enlaçado pelo amor, porque o amor enlaça. O amor faz semblante de que é possível a união, de que é possível achar a parte perdida do gozo, mas o amor fracassa.

As histórias de amor são sempre histórias de desencontros. Os desencontros se sustentam na esperança de um encontro com o Outro, que seria todo, lançando o sujeito no registro da impossibilidade que resulta da tentativa de fazer com que a relação sexual exista. O que vem em suplência à relação sexual é precisamente o amor (LACAN, J. 1972/73: 62). O amor vem fazer suplência à impossibilidade da relação sexual na tentativa de fazê-la existir.

A história, baseada em relato real, deu origem ao livro Geraldine, de Mônica Jay. O filme, quase uma comédia, tenta colocar sob luz favorável os homens heterossexuais que gostam de vestir-se com roupas femininas, ou seja, travestis heterossexuais O filme fala do travestismo de um sujeito heterossexual.

Um sujeito fascinado, identificado com a mãe imaginariamente, vendo-a se maquiar em frente ao espelho. Quando se torna um homem, esmera-se na frente do espelho, maquiando-se. A identificação é o primeiro laço com o outro, alega Freud (1921), e, portanto, enlaça, sendo que neste caso constitui uma identificação imaginária com a mãe. Veste-se de mulher, usa uma peruca e copia o brilho dourado dos cabelos maternos A escolha e o uso da peruca loira são formas de gozo. Este não enlaça, desenlaça, é a singularidade de cada um. O amor enlaça e o gozo desenlaça.

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Referências

1- QUINET, A. O Encontro e o laço social (apresentado em Curitiba, 13/03/2015).

2- FREUD, S. Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921). Obras Completas. Imago Editor. Vol. XVIII, 1980;

3 – LACAN, J. Seminário, Livro 20: Mais ainda (1972/73). Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1985.

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